Muitas pessoas infelizes com o trabalho e que estão em busca de uma nova carreira enfrentam o mesmo dilema: elas já sabem o que não querem mais fazer, mas não têm ideia do que querem fazer. Como consequência, acabam se tornando prisioneiras do trabalho atual ou se arriscam em novas atividades para só então se darem conta de que “eram felizes e não sabiam”. Minha pesquisa em transições de carreira e alguns anos de experiência como coach, me mostraram, entre outras coisas, que a resposta para o que queremos ser no futuro muitas vezes encontra-se no passado! Deixe-me explicar isso melhor.
Provavelmente, quando criança ou adolescente, você já teve algum tio, tia ou amigo mais velho da família que te perguntou: “o que você quer ser quando crescer?”. Que resposta você dava? Alguns queriam ser astronautas, outros jogadores de futebol, ou ainda bailarina, professora ou médica. Pode parecer estranho, mas se você busca um trabalho que te traga maior satisfação e realização, você deveria lembrar-se daquilo que respondia quando te faziam essa pergunta.
Veja meu caso. Com meus 10 ou 11 anos, eu dizia que queria ser caminhoneiro. Ok! Já sei o que você vai pensar... Caminhoneiro?? Sim, caminhoneiro. E por que eu dizia isso? Nessa idade, eu gostava muito de assistir ao seriado “Carga Pesada” na rede Globo, aquele com o Antônio Fagundes e o Estênio Garcia, lembra? O Pedro e o Bino? (Se você tem menos de 25 anos, sugiro que faça uma busca no Google). Achava aquele seriado o máximo! Os dois eram companheiros de estrada que viajavam juntos por todo o Brasil na boleia de um caminhão. Em suas jornadas, enfrentavam vários desafios, aventuras e confusões, conhecendo muitos lugares e pessoas diferentes pelo caminho. Mas afinal, o que os dois caminhoneiros tinham de especial que tanto me atraía para essa profissão? Em outras palavras, qual era de fato a sensação que me fazia admirar a vida que os dois levavam? O que você acha? Se respondeu que era a sensação de liberdade, acertou. Liberdade!
Bem, como você pode imaginar não me tornei um caminhoneiro, mas analisando meu trabalho atual, percebo que existe alguma similaridade entre aquilo que eu (na fantasia de criança) imaginava ser a vida de um caminhoneiro e aquilo que faço hoje. Veja só: um dos principais motivos para ter mudado de carreira, aos 40 anos de idade, foi a sensação de falta de liberdade que tinha quando era executivo de marketing de uma grande multinacional. Ter que ir todos os dias para o mesmo lugar, à mesma hora, para trabalhar em um espaço fechado, com as mesmas pessoas, ter que dar satisfação ao chefe para sair no meio do expediente para resolver algum problema pessoal e, com frequência, ter que adiar compromissos pessoais por ter que trabalhar mais um dia até tarde da noite em algo que nem era tão importante assim, tudo isso, me fazia sentir, de certa forma, um prisioneiro.
Hoje, como profissional autônomo, me sinto dono da minha própria agenda e do meu destino. Assim como Pedro e Bino, há dias em que passo por três cidades diferentes. Pela manhã estou em uma empresa em Guarulhos conduzindo um treinamento para líderes, à tarde estou em minha sala, atendendo um cliente de coaching de carreira e, à noite, vou até Osasco dar uma aula sobre desenvolvimento de equipes. Lugares diferentes, assuntos diferentes, pessoas diferentes, vivendo desafios diferentes. Liberdade! Me dei conta, então, de que “liberdade” é um dos meus valores mais importantes! Algo que influenciou muito a minha troca de carreira.
Para não ficar só no meu exemplo, veja algumas respostas dadas por alguns dos meus clientes à pergunta sobre o que queriam ser quando criança. Um deles, queria ser médico, pois gostava da ideia de ler resultados de exames para fazer diagnósticos de saúde dos pacientes e “descobrir algo” até então desconhecido. Ele não se tornou médico, virou administrador. Mas concluiu que uma possível carreira que lhe traria maior realização era a de consultor, pois como médicos, são pagos para analisar dados e, a partir deles, fazer diagnósticos, não de pessoas, mas de empresas e negócios e então fazer recomendações para resolver os problemas da “saúde financeira” da empresa.
Outra cliente, queria ser secretária, pois assim poderia ajudar e “cuidar” das pessoas. Tornou-se farmacêutica e trabalhava como executiva de uma grande multinacional da indústria farma na área de inovação. Entendeu, com o processo, que se sentiria mais plena e realizada se trabalhasse na área de projetos sociais da empresa, ajudando ONGs apoiadas pela companhia a implementarem seus projetos sociais. Assim, estaria impactando diretamente a vida das pessoas mais necessitadas.
Um outro, queria ser inventor, pois gostava da sensação de “criar” coisas novas e, para isso, usar sua capacidade criativa. Tornou-se engenheiro, mas estava insatisfeito com o seu trabalho por ter um caráter muito operacional. Resolveu então explorar a possibilidade de tornar-se um engenheiro projetista, profissão onde poderia colocar em prática sua capacidade inventiva e criativa.
Portanto, ao se recordar daquilo que queria ser quando era criança, pense no “por quê”. Por que você queria se tornar aquela pessoa? Qual era a sensação que tinha ao pensar em ser astronauta, ou bailarina? Você provavelmente irá se deparar com alguns dos seus principais valores. Utilize esses valores para pensar nas novas possibilidades de carreiras. Quais trabalhos ou profissões vão permitir que você vivencie mais desses valores? Aonde poderá ter mais dessas sensações?
E então? O que você quer ser quando crescer?
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